Grito a profecia

Grito a profecia duma alvorada qualquer:
Sou pássaro despido do passado!
Respiro solidão, é certo, mas sou livre e aberto!
Amanhã o Sol nasce se Deus quizer
e me aquece o corpo regelado,
pelas intempéries do incerto,
da falta de ti, mulher.

Vinha vida no vento e na chuva que caía
Era mel a escorrer como profecia.
E eis que numa vaga de palavras a dançar,
num ritmo de embalar,
o teu ventre, o teu ser, tudo esmorecia.


(João Morgado)